Exames Que Ajudam A Alcançar A Longevidade

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O Que É Longevidade?

 

A ideia de longevidade é frequentemente mal interpretada. Geralmente, entende-se como longevidade a quantidade de anos que uma pessoa viveu, porém essa definição não se adequa à representação correta de longevidade.

 

Isso porque a longevidade apresenta dois componentes embutidos e indissociáveis a ela: healthspan e lifespan. Healthspan, do inglês, não apresenta tradução em apenas uma palavra, sendo, então, expressa como o quão bem um indivíduo vive.

 

Ou seja, o quão prazerosa e não penosa é a vida do indivíduo. Em termos mais simplificados, seria algo como “qualidade de vida” ou “salubridade de vida”.

 

A healthspan apresenta, também, 3 componentes: o cognitivo, o físico/estrutural e o emocional. 

 

O componente cognitivo diz respeito à capacidade de raciocínio de um indivíduo e suas outras faculdades mentais.

 

A maioria dos esforços para preservar a cognição são, basicamente, alinhados diretamente aos esforços para reduzir o risco de demências.

 

O componente físico é o primeiro que se sobressai no quesito de qualidade de vida, visto que nenhuma pessoa gosta de viver com dor, ou de sentir dor a qualquer movimento mais brusco como dor no joelho, nas costas etc.

 

É um dos componentes mais impactantes, visto que ocorre décadas antes de alguém morrer. Por isso, nunca é muito cedo para cuidar da saúde física.

 

Por fim, há o componente emocional que, apesar de ser pouco relacionado à idade, é extremamente importante para a vida de uma pessoa.

 

Alguém bem resolvido, com realizações pessoais e profissionais, tem menos chances de deixar seu lado psicológico afetar negativamente seu lado físico.

 

No entanto, exames laboratoriais não são relevantes para esse componente porque não há um teste laboratorial para medir, no sangue, ou em qualquer lugar que seja, a felicidade, nível de realização, dentre outros.

 

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 Lifespan, por sua vez, também não apresenta uma tradução por uma palavra apenas, o que faz com que seja representada pela expressão “vida útil” ou “duração de vida”.

 

Basicamente, significa o quanto de tempo que um indivíduo viveu.

 

A partir da noção desses dois conceitos, exprime-se a ideia de longevidade, que pode ser representada pela seguinte expressão: “a quantidade de tempo em que um indivíduo consegue viver em condições salubres ou, pelo menos, com uma doença crônica em condições pouco fatais e limitantes”.

 

Aqui, é introduzido um fator extremamente importante que é a doença crônica.  A doença crônica é uma doença que ocorre por, no mínimo, 1 ano e requer atenção médica contínua ou limita as atividades do dia a dia ou ambos.

 

As doenças crônicas mais comuns são as doenças do coração, câncer, diabetes e as demências (mal de Alzheimer, Parkinson etc.).

 

Levando em conta a existência das doenças crônicas, um indivíduo, para ser considerado como longevo, não necessariamente não apresentará uma doença crônica.

 

A ideia de longevidade também se resume no quanto alguém vai atrasar a instalação de uma doença crônica. Por exemplo, alguém pode completar 80 anos e, só a partir dessa idade ou depois, apresentar uma doença crônica.

 

Por outro lado, um indivíduo pode apresentar uma doença crônica antes dos 80 anos, porém essa condição não se apresenta como um quesito que limita significativamente os seus afazeres do cotidiano.

 

Em casos mais raros, há pessoas que completam os seus 100 anos sem o diagnóstico das doenças crônicas mais comuns associadas à idade: câncer não-cutâneo, hipertensão, osteoporose, desordens na tireoide, mal de Parkinson, mal de Alzheimer, diabetes, catarata, doença crônica pulmonar obstrutiva etc. 

 

Esses três tipos de pessoas, ou perfis de morbidades de centenários, são chamados de atrasadores, sobreviventes e escapadores, respectivamente.

 

Esses três perfis de morbidade foram definidos por Everts e colaboradores no estudo “Morbidity Profiles of Centenarians: Survivors, Delayers, and Escapers”, realizado em 2003 que, por meio de pesquisa, avaliou 424 pessoas com idade de 97 a 119 anos e contabilizou que 38% eram sobreviventes, 43% eram atrasadores e apenas 19% eram escapadores.

 

Ou seja, 81% dos 424 indivíduos avaliados, o que representa 343 centenários, apresentaram uma doença crônica, ao passo que apenas 99 chegaram aos 100 anos sem esse diagnóstico. 

 

Apesar de os dados parecerem desestimulantes, é válido ressaltar que esse estudo foi um estudo retrospectivo e que os dados foram colhidos por meio de questionário e os autores pegaram apenas um recorte específico da população que foi utilizado como objeto de estudo. 

 

O que é proveitoso nesse estudo é a definição dos perfis de morbidades de centenários e a seguinte constatação: os centenários não vivem mais depois de pegar uma doença, apenas demoram para ter a doença.

 

Os seus “superpoderes” são o tempo que eles demoram para ter uma fenda em sua armadura. 

 

Após a doença se instalar, eles foram expostos à criptonita e são meros mortais. Em outras palavras, eles simplesmente tiveram um atraso de 20 anos antes de adquirirem uma doença crônica em relação a um indivíduo médio.

 

O Paradigma Do Sistema De Saúde

 

Com o advento da modernização da medicina, esperava-se que a solução para todos os males que assolam a saúde da humanidade se desintegrariam ou, pelo menos, diminuiriam consideravelmente.

 

Contudo, essa impressão não se concretizou. Hoje, cada vez mais se vê o aumento da incidência de doenças crônicas, bem como sua gravidade. 

 

E, ainda assim, parece que o sistema de saúde continua focando na face errada da moeda que representa as doenças.

 

É interessante pensar nos modos de ação frente a uma doença como uma moeda de dupla-face. Há a face da prevenção e a face do tratamento. 

 

Ainda hoje, o sistema de saúde é majoritariamente voltado a ajudar alguém a viver mais depois que esse alguém adquiriu uma doença.

 

Não há um foco, na medicina convencional ou mainstream, na prevenção de doenças e condições. A prevenção não é realmente o cerne da medicina.

 

A medicina tem um grande impacto ou seus grandes esforços basicamente em o que fazer após se ter uma doença. E, ademais, pouco progresso se viu em duas das três mais letais doenças crônicas.

 

O sistema de saúde é reativo ao invés de ser proativo. 

 

Com o mal de Alzheimer: não há drogas que possam reverter essa demência ou diminuir sua progressão uma vez que essa se instala de vez. 

 

Com o câncer: houve pouco progresso em 50 anos em quesito de taxa de sobrevivência a longo prazo. Em cânceres metastáticos, cerca de 5% de melhora foi provocada nos últimos 5 anos. 

 

Com as doenças cardiovasculares: o único âmbito que se viu maior parte do processo em gerenciar a doença. Mas, por quê?

 

A aterosclerose é muito mais uma série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, fazendo com que haja uma continuidade entre o ponto inicial e o ponto final.

 

Além disso, é uma condição menos complicada e apresenta uma vasta literatura no que tange a tratamentos. 

 

Face a essa inclinação que a medicina moderna tem de atuar com foco no tratamento de doenças crônicas ao invés de sua prevenção, é importante ter em mente quais parâmetros ocorrentes no corpo humano que, se em níveis inadequados, aumentam a propensão de alguém desenvolver um quadro de moléstia duradoura e, tão importante quanto essa noção, o modo de acessá-los, ou seja, quais exames que vão ajudar no objetivo de alcançar a longevidade.

 

Os 4 Cavaleiros Da Doença Crônica

 

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Atualmente, 80% das mortes ocorridas no mundo são causadas por 4 grandes categorias: doença aterosclerótica, câncer,  doenças neurodegenerativas — principalmente o mal de Alzheimer — e doença fundacional ou basal — que é um espectro de tudo envolvendo hiperinsulinemia à resistência insulínica à doença do fígado gorduroso à diabetes do tipo II. 

 

Essas doenças são, em grande parte, preveníveis, o que significa que uma parte considerável das mortes que ocorrem poderiam ter sido evitadas apenas focando na prevenção por meio da mudança de hábitos e outras medidas. 

 

É imprescindível, portanto, saber o que está errado no corpo para, então, tomar as medidas necessárias. É aí que reside a importância dos exames laboratoriais. 

 

De começo, apenas para apresentar, há uma série de exames laboratoriais, sendo os cinco seguintes os principais exames para averiguar o risco frente aos 4 cavaleiros anteriormente citados: 

 

  1. Número de partículas de lipoproteína a (Lp(a)-P). Ou massa total de Lp(a), o que é uma aproximação razoável. 
  2. Genótipo APOE (Apolipoproteína E).
  3. Número de partículas de LDL, LDL-P, e/ou de Apolipoproteína B, ApoB. 
  4. Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG). 
  5. Alanina aminotransferase (ALT). 

 

Menções honrosas: homocisteína, proteína C-reativa ultrassensível (PCR-us), LDL oxidado (oxLDL) e fosfolipídios oxidados (oxFL ou oxPL), fibrinogênio, fosfolipase 2 lipoproteica (Lp-PLA2), dimetilarginina assimétrica (ADMA) e dimetilarginina simétrica (SDMA).

 

Esses parâmetros são de grande valia de serem conhecidos, bem como os níveis de estradiol (E2). Também, o histórico familiar é importante. 

 

1º Cavaleiro: A Aterosclerose

 

A aterosclerose é impulsionada primeiramente e majoritariamente por proteínas lipídicas, isto é, as lipoproteínas. Elas são os agentes principais. No entanto, há diferenças entre elas.

 

De começo, é importante ter em mente o que são as lipoproteínas. Lipoproteínas nada mais são que moléculas com frações protéicas e lipídicas que realizam o transporte dos lipídios no sangue, principalmente o colesterol e os triglicerídeos.

 

 

Os lipídios não se solubilizam no plasma sanguíneo (a parte líquida do sangue), visto que é composto por cerca de 92% de água.

 

Por isso, é necessário que elas sejam transportadas por moléculas que apresentem certa solubilidade no plasma. 

 

Essas lipoproteínas apresentam diferentes densidades em virtude do tamanho de suas porções proteica e lipídica. Uma lipoproteína com alto teor proteico será mais densa, enquanto uma lipoproteína com alto teor lipídico será menos densa.

 

Dito isso, as principais lipoproteínas que devem ser observadas são a Apolipoproteína B (ApoB), a lipoproteína a (Lp(a)) e remanescentes de VLDL (very-low-density lipoprotein, lipoproteína de densidade muito baixa).

 

Essas duas primeiras podem ser medidas diretamente, enquanto a última não. No entanto, sua quantidade pode ser aproximada razoavelmente pela quantidade de colesterol-VLDL. 

 

Os motivos disso são os seguintes: a ApoB é um marcador de todas as partículas aterogênicas, isto é, Quilomícrons, LDL (low-density lipoprotein), VLDL, IDL (intermediate-density lipoprotein, lipoproteína de densidade intermediária) e Lp(a), visto que cada um deles têm uma, e somente uma, apoB100 por partícula.

 

Tudo o que causa aterosclerose possui ApoB100, uma isoforma da ApoB. Se alguém possui muitos remanescentes de VLDL, por exemplo, esse alguém terá altos níveis de ApoB, o que denota a importância de medição desse parâmetro.

 

Por causa do seu tempo estendido de residência no plasma, mais de 90% das partículas contendo ApoB são LDLs, o que significa que a medição de ApoB majoritariamente representa a concentração de partículas LDL, porém, também apresenta um modo de acessar as outras lipoproteínas.  

 

Interligada à ApoB, a Lp(a) é uma lipoproteína semelhante à uma lipoproteína de baixa densidade, com uma ApoA ligada covalentemente a uma ApoB por uma ligação dissulfeto.

 

Seu valor de medição reside nos conhecidos efeitos coagulantes da ApoA combinados aos efeitos aterogênicos e inflamatórios dos fosfolipídios oxidados relacionados à ApoB. 

 

Em decorrência de os níveis de Lp(a) serem de 75% a 95% hereditários, só se faz a sua medição uma vez, isso se não houver o uso de medicações conhecidas por mudarem substancialmente os níveis de Lp(a) após a medição inicial. 

 

Os níveis de Lp(a) são tipicamente expressos tanto como massa de partícula inteira em mg/dL como o número de partículas de ApoA em nmol/L. Ocasionalmente, a Lp(a) pode ser expressa como colesterol-Lp(a) em mg/dL. 

 

Aqui, pode ser que tenha surgido uma dúvida: qual é a vantagem de medição desses parâmetros em relação aos parâmetros medidos tradicionalmente, ou seja, colesterol-LDL, colesterol-HDL, colesterol total etc.? (Um ponto a se notar, é que o método tradicional se baseia majoritariamente nos níveis de colesterol-LDL para atestar risco de aterosclerose). 

 

A vantagem reside em uma diretriz mais interessante em situações de discordância e concordância. 

 

Para ilustrar esses dois conceitos, segue a seguinte situação: um alto nível de colesterol-LDL (LDL-C) prevê um alto nível de partículas de LDL (LDL-P) e a recíproca é verdadeira.

 

Quando LDL-C e LDL-P “combinam”, eles são concordantes e preveem igualmente o mesmo desfecho, ou seja, risco de eventos cardiovasculares: ambos estão altos (ou baixos) em relação à população. Nessa situação, há a situação de concordância.

 

Porém, quando eles não “combinam”, são discordantes, ou seja, há uma situação de discordância. 

 

Não se fala em números absolutos, mas como cada um se soma ao outro às suas respectivas médias populacionais. 

 

Em suma, um LDL-C concordante com LDL-P é um bom previsor de eventos cardiovasculares. Em caso de discordância entre esses dois parâmetros, é imprescindível saber qual deles é o previsor correto. 

 

Para exemplificar ainda mais esses conceitos e trazê-los ao mundo real, avaliemos os ensaios clínicos de (I) Framingham e o (II) MESA (Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis, Estudo Multiétnico de Aterosclerose).

 

A notar: dois estudos de coorte e (I) teve início em 1948 e ocorre até hoje, enquanto (II) ocorreu de 1999 até 2019.

 

Em (I), indivíduos que apresentaram a taxa de sobrevivência livre de eventos cardiovasculares mais baixa manifestaram níveis baixos ou altos de LDL-C, mas todos tiveram altos níveis de LDL-P.

 

Ainda nesse quesito, a recíproca é verdadeira: os indivíduos que apresentaram essa taxa de sobrevivência mais baixa apresentaram universalmente baixos níveis de LDL-P, enquanto manifestaram níveis altos ou baixos de LDL-C. 

 

Em (II), em um ensaio com população muito mais heterogênea, mediu-se a taxa de eventos ocorridos.

 

Nesse ensaio, o mesmo padrão emerge: um LDL-P alto, independente de LDL-C, prevê mais eventos desfavoráveis, enquanto o LDL-P baixo, independente de LDL-C, prevê menos eventos. 

 

Dessa forma, a prerrogativa de Allan Sniderman e colaboradores em seu artigo de revisão “Apolipoprotein B Particles and Cardiovascular Disease: A Narrative Review.”, publicada em 2019 no JAMA Cardiology torna-se cada vez mais proeminente.

 

Sniderman argumenta que o nível de apoB — em vez de LDL-C, colesterol não-HDL e até mesmo LDL-P — é a melhor opção para acessar os níveis de lipoproteínas potencialmente aterogênicas.

 

Isso porque, segundo Sniderman e colegas, há discordância frequente entre níveis de colesterol não-HDL e níveis de ApoB (isto é, partículas contendo ApoB). 

 

Também, segundo Sniderman e colaboradores, a concentração de partículas é melhor para prevenir risco em relação às concentrações de colesterol pela sua hipótese da aterogênese: é uma hipótese relativamente direta e se resume aos números e ao curso do tempo.

 

Um grande número de partículas de ApoB leva a um número maior dessas partículas que entram e ficam aprisionadas na parede das artérias, o que leva a um aumento grande da lesão à parede arterial. 

 

É uma lógica cumulativa: quanto mais chutes ao gol (chutes = partículas atingindo as paredes arteriais, e gol = parede arterial), maior a chance de ocorrer um gol (gol = partículas passando pelas rachaduras/lesões nas paredes arteriais). 

 

Outro fator importantíssimo é o fator que impulsiona essa discordância entre a “bagagem” das partículas, ou seja, o colesterol carregado por elas, e o número de partículas. 

 

A explicação se resume na variabilidade do tamanho e composição das partículas contendo ApoB. Esses parâmetros não são fixos: variam de pessoa para pessoa, a depender do arcabouço genético e saúde metabólica.

 

Por exemplo: uma LDL carregando mais triglicerídeos contém menos colesterol, o qual é chamada de LDL depletada de colesterol.

 

Também, uma LDL de menor diâmetro deixa muito menos espaço no seu núcleo para carregar colesterol, independentemente do conteúdo de triglicerídeos. 

 

Se um indivíduo apresentar uma grande quantidade de LDLs pequenas (de menor diâmetro) depletadas de colesterol, isso é uma receita para a discordância do tipo baixo LDL-C e alto LDL-P e, da mesma forma, se alguém apresentar um grande número de LDLs carregando moléculas de colesterol, haverá a discordância do tipo alto LDL-C e baixo LDL-P.

 

No entanto, a única forma de um médico saber quanto as medidas de colesterol e ApoB são concordantes ou discordantes é medindo ApoB e comparar seus níveis com o perfil lipídico.

 

Virtualmente, em todos os ensaios nos quais a discordância está presente, o risco de doenças cardiovasculares aterogênicas acompanha melhor os níveis de ApoB. 

 

Para recapitular e, após a intensa dissertação expondo os notáveis pontos de vantagem entre as medições de partículas em relação ao modelo tradicional, os exames mais interessantes para serem realizados são: níveis de Lp(a), níveis de ApoA e remanescentes de VLDL.

 

Agora, seguimos para outra parte e expondo a importância da medição de parâmetros como hiperinsulinemia e ADMA.

 

Para tal, é necessário apresentar os outros fatores, além dos lipídios, que já foram expostos, que fomentam as doenças cardíacas ateroscleróticas.

 

A inflamação é um pré-requisito para a aterosclerose. Há vários marcadores de inflamação, porém nem todos são específicos para a inflamação cardíaca.

 

Começando pelos mais específicos: oxLDL, mieloperoxidase (uma enzima que, se elevada, está associada com a severidade de doença cardíaca coronariana) e Lp-PLA2. Os marcadores menos específicos são PCR-us, fibrinogênio e interleucinas. 

 

A saúde endotelial atua de forma importante na aterosclerose.

 

Apesar de não ter muito entendimento que possa ser derivado de medidas laboratoriais, hiperinsulinemia, homocisteína elevada, ácido úrico elevado e função renal comprometida são fatores que irritam o endotélio, ou seja, nossos vasos sanguíneos.

 

A ADMA e a SDMA são derivados da arginina, um aminoácido fundamental para a produção de óxido nítrico, que é um vasodilatador.

 

Esses derivados comprometem a formação de óxido nítrico e sua eliminação pelo organismo é prejudicada pela homocisteína elevada. 

 

A saúde metabólica é um termo essencial na aterosclerose.

 

Níveis de glicose, insulina e triglicerídeos têm ação importante em quadros de resistência insulínica que, por sua vez, pode desencadear em condições desastrosas como fígado gorduroso e diabetes do tipo II. 

 

Outro parâmetro que não fora citado e, talvez, tenha causado estranheza por isso, é o escore coronariano de cálcio.

 

Esse exame é um jeito de avaliar a quantidade de placas calcificadas (ou duras) nos vasos cardíacos, especificamente nos vasos da circulação coronária, que transporta sangue oxigenado para o miocárdio. 

 

Sobre esse teste, a idade é um quesito extremamente importante no tocante à sua interpretação. Para ilustrar: um paciente jovem não deveria ter calcificação alguma, logo, um escore de cálcio igual a 0 em pessoas abaixo dos 50 anos não é de muita valia. 

 

Em pessoas mais velhas, alguém acima de 75 anos que apresenta uma calcificação significativa também não é uma surpresa.

 

A questão é sutil: alguém abaixo dos 50 anos que tem uma partícula de cálcio, de fato e imediatamente, apresenta um risco aumentado.

 

Consequentemente, alguém com 80 anos que não apresenta níveis de cálcio nesse exame está, com certeza, em uma categoria de risco mais baixa, independentemente dos seus biomarcadores. 

 

O problema não está no teste em si, está na consequência da interpretação errônea por causa de seus pontos cegos.

 

Pessoas novas não viveram o suficiente para acumular calcificação ainda que eles estejam com uma doença ocorrendo de forma silenciosa.

 

Também, nem todos que apresentam doenças em estágios avançados apresentam calcificação.

 

Sem contar que, apesar de uma pessoa não apresentar placas calcificadas duras, essa pessoa pode apresentar diversas placas “moles” que ainda não foram calcificadas. 

 

Exames

 

2º Cavaleiro: O Câncer

 

A respeito do câncer, além dos exames de rastreamento já existentes, há a medição de parâmetros metabólicos. Isso porque o câncer é tanto uma doença genética quanto uma doença metabólica. 

 

O que ocorre no câncer é o crescimento celular desordenado. As células crescem independentemente da sinalização celular que inibe esse ciclo.

 

 

Também, o sistema imunológico atua de forma proeminente na contenção do câncer. Esse sistema encontra e destrói as células “desobedientes”.

 

Dessa forma, se o sistema imunológico estiver deprimido ou disfuncional, a chance de ocorrer cânceres é maior. 

 

Basicamente, para acessar o risco de câncer por meio de testes, é necessário acessar o metabolismo. Um terreno metabólico insulinorresistente é extremamente propício para a proliferação celular descontrolada.

 

Isso porque as células cancerígenas se alimentam preferencialmente de glicose e, em diversos estudos, a maior disposição de insulina, bem como a resistência a esse hormônio, são situações que incentivam o crescimento dessas células. 

 

Quanto aos exames, a medição de níveis de glicose e insulina são mandatórios. O TOTG é um exame essencial porque exprime as concentrações de insulina em resposta às concentrações de glicose após a ingestão de um líquido rico em glicose. 

 

Outros exames que podem ser de grande valia são os exames de medição de níveis de Insulin Growth Factor, IGF (fator de crescimento semelhante à insulina) e proteínas ligantes do IGF.

 

3º Cavaleiro: Doenças Neurodegenerativas

 

As doenças neurodegenerativas talvez sejam as mais perspicazes e assoladoras, visto que, geralmente, não apresentam uma causa clara.

 

Isso, por consequência, não dá margem para traçar medidas de contenção muito assertivas para a maioria delas. 

 

A principal doença neurodegenerativa que assola a humanidade é o mal de Alzheimer. Um lado positivo, se é que é possível enxergar positividade nisso, é que há um vasto conhecimento em relação a essa doença.

 

O que faz com que ela possa ser segmentada em virtude de seus componentes. 

 

O mal de Alzheimer apresenta um componente genético que, embora não seja determinante, a depender do conjunto genético, impõe risco no indivíduo. 

 

O conhecimento do genótipo APOE é o mais importante em termos de entender os riscos. Há 3 grandes alelos que codificam para a APOE, são eles: ApoE2 (ε2), ApoE3 (ε3) e ApoE4 (ε4).

 

Cada pessoa herda um alelo de cada progenitor, o que dá um total de duas cópias por pessoa e, essas cópias podem ser combinadas e gerar as seguintes combinações: ε2/ ε2; ε2/ ε3; ε2/ ε4; ε3/ ε4; ε4/ ε3; e ε4/ ε4.

 

Um destaque para esse último, que apresenta maior taxa de risco em relação ao genótipo base ε3/ ε3 e em relação a todos os outros.

 

Essa constatação deriva da descoberta que Corder et al., em 1993, que indivíduos com Alzheimer frequentemente apresentavam essa combinação ε4/ ε4. 

 

Outros genes importantes de serem avaliados são o APP (amyloid precursor protein, proteína precursora de amiloide), PSEN1 (presenilin 1, presenilina 1) e PSEN2 (presenilin 2, presenilina 2).

 

Esses genes talvez sejam determinantes no desenvolvimento do mal de Alzheimer.

 

O gene TOMM40, gene que codifica para a proteína TOMM40 (Translocase of outer mitochondrial membrane 40 homolog, homólogo 40 da translocase da membrana mitocondrial externa) também está associado à maior incidência de mal de Alzheimer.

 

É interessante testar para esses genes geralmente quando há uma suspeita grande após se observar um histórico familiar forte favorável ao mal de Alzheimer. 

 

O componente metabólico realmente importa e, inclusive, é um fator que está ligado a todas as doenças crônicas. No entanto, em tabelas de mortalidade, não se apresenta individualmente como uma grande chance de morte.

 

Outros componentes extremamente relevantes são a exposição às toxinas e o componente vascular. 

 

Esses últimos componentes estão intimamente ligados à função mitocondrial. Dito isso, essa organela vem sendo apontada como a organela foco de atuação contra o mal de Alzheimer no sentido de prevenir ou reverter sua disfunção.

 

Em outras palavras, a função mitocondrial plena está associada a menores riscos de desenvolvimento de mal de Alzheimer.

 

Exames

 

4º Cavaleiro: Doenças Fundacionais Ou Basais

 

As doenças fundacionais ou basais são, discutivelmente, o fator mais importante para o desdobramento de várias outras doenças, sejam elas crônicas, sejam elas agudas. 

 

Como já se foi falado da importância dos parâmetros relativos ao metabolismo da glicose e à insulina, a atenção será voltada a dois outros elementos cruciais: a tireóide e o sistema endócrino.

 

A começar pela tireóide. A tireoide é uma glândula localizada no pescoço e apresenta formato de borboleta. Ela secreta três hormônios: triiodotironina (T3), tiroxina (T4) e calcitonina. O foco será no T3 e no T4.

 

Primeiramente, a tireoide recebe um sinal da hipófise. Esse sinal é o hormônio TSH (Thyroid Stimulating Hormone, hormônio estimulante da tireoide), que estimula a conversão de T4 em T3 pela glândula.

 

Por sua vez, o T3 inibe, no cérebro, a hipófise. Isso de forma extremamente resumida. 

 

O triodotironina atua como acelerador do metabolismo e enzimas chamadas de deiodinase também atua na sua disponibilidade.

 

A deiodinase 3 é responsável por converter o T3 a T3 reverso. Esse processo é de extrema importância para o corpo, visto que visa desacelerar o metabolismo.

 

Em jejuns muito prolongados, os níveis de T3 reverso explodem, visto que o corpo quer voltar ao seu estágio normal e conter a perda de massa. 

 

No entanto, o problema reside na desproporção de T3 reverso em relação ao T3 em situações normais.

 

Em pessoas que apresentem esse tipo de quadro, há um grande problema no que se refere à intensidade metabólica e, por consequência, à facilidade de perda de massa, resposta à temperatura, níveis de colesterol etc. 

 

Dessa forma, é de suma importância que os níveis de T3 reverso também estejam incluídos no exame de função tireoidiana, a fim de compará-los com os níveis de outras moléculas essenciais ao funcionamento correto da tireoide. 

 

 

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Dentre os fatores que podem aumentar a concentração de T3 reverso, estão a hipercortisolemia, privação do sono, estresse, resistência insulínica e resistência à leptina.

 

Assim, é importante que o profissional de saúde avalie a causa da desproporção entre triiodotironina e triiodotironina reversa ao se deparar com ela. 

 

Por último, mas não menos importante: a alanina aminotransferase (ALT).

 

A ALT, também chamada de transaminase glutâmica pirúvica (TGP) e alanina-piruvato aminotransferase é uma enzima que catalisa, junto da glutamato-α-cetoglutarato aminotransferase, a doação de grupamentos amino (-NH2) para a molécula de piruvato, bem como a doação de grupamentos amino da alanina para a molécula de α-cetoglutarato.

 

Essas reações de transaminação são reversíveis, tendo grande versatilidade metabólica. 

 

Essa enzima ocorre mais abundantemente no fígado e é utilizada como um parâmetro de avaliação de disfunção hepática em virtude de fígado gorduroso e outros problemas hepáticos. 

 

A questão é que, em termos de longevidade, condições silenciosas como fígado gorduroso e resistência insulínica têm relação com a ALT, visto que o fígado, ao ter sua função comprometida, expressa níveis alterados dessa enzima, sendo a sua medição importante no processo de acesso de riscos de doenças metabólicas associadas ao fígado em virtude da magnitude desse órgão. 

 

Quando os níveis de ALT estão acima ou abaixo do normal, isso significa um comprometimento da função hepática que, em grande maioria dos casos, é decorrente de uma doença hepática associada ao metabolismo.

 

No entanto, em casos de níveis baixos de ALT, pode estar ocorrendo uma deficiência de vitamina B6.

 

Conclusão

 

Em suma, a longevidade não é algo fácil de se alcançar, portanto, é necessário que esforços minuciosos sejam tomados dia após dia para tal.

 

Uma vantagem que o ser humano possui é a imensa capacidade de adaptação. Quando entramos em contato com tarefas difíceis e não usuais, apresentamos falta de destreza para realizá-las.

 

No entanto, com o passar do tempo e aplicação prática, tarefas que antes pareciam difíceis passam a ser feitas quase de modo automático, ou seja, fazemos escolhas de modo inconsciente.

 

Isso também pode ser trazido às práticas que buscam a longevidade.

 

No início, podem ser difíceis. Após o processo inicial de aprendizado, passam a ser mais fáceis a cada dia que passa. Nesse processo, os grandes aliados na busca pela longevidade são os exames.

 

Não todos os exames, até porque, de forma sucinta, muitos âmbitos importantes como o âmbito do câncer carecem de respostas. Porém, outros exames são essenciais para se ter noção da situação atual e, daí, tomar medidas em prol da longevidade. 

 

Os conceitos de lifespan e healthspan devem estar bem elucidados, bem como as 3 facetas da healthspan: cognitiva, emocional e física. 

 

Os 4 cavaleiros da doença realmente ceifam vidas e, apesar de parecer uma fala cruel e insensível, muitas das vezes as pessoas simplesmente param de correr e deixam um ou mais desses cavaleiros as alcançar.

 

Seja por desleixo, seja por falta de conhecimento. 

 

Também, o sistema de saúde com foco no tratamento ao invés da prevenção tem grande parcela de culpa no aumento da velocidade desses 4 cavaleiros.

 

Não só isso, mas também a interpretação inadequada de exames e a utilização de critérios não tão interessantes quanto outros, especialmente no caso das doenças cardíacas ateroscleróticas. 

 

Embora o cerne dos exames resida nas doenças crônicas e seus biomarcadores, parâmetros como os hormônios sexuais são imprescindíveis para a longevidade e não podem ser esquecidos.

 

 Estradiol, testosterona livre, testosterona, globulina de ligação aos hormônios sexuais (SHBG, Sex Hormone-Binding Globulin), Hormônio Luteinizante (LH, luteinizing hormone), hormônio folículo-estimulante (FSH, follicle stimulating hormone) e progesterona são parâmetros que não podem deixar de serem monitorados. 

 

De modo sintético, bons entendimentos podem ser obtidos por meio de exames no que diz respeito à aterosclerose, risco de demências, hormônios sexuais, hormônios tireoidianos e metabolismo.

 

Infelizmente, o câncer é representado com entendimentos inconclusivos/ruins através de exames.

 

Porém, o modo correto de agir frente a essa incerteza é, ao se conhecer a relevância do metabolismo, melhorar hábitos que impactam diretamente nos impulsionadores dessa moléstia e, como exposto anteriormente neste E-book, o metabolismo é um componente importantíssimo em todas as doenças crônicas. 

 

De qualquer forma, volta-se ao ponto inicial: por mais que a longevidade pareça difícil de se alcançar para alguém que não pratica hábitos voltados à longevidade, com o tempo, tais práticas se tornam automáticas e, o caminho para a sonhada degustação da plena lifespan e plena healthspan, mais curto.

 

 

 

Referências

 

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Sobre o autor | Website

Sou médico, empresário e apaixonado por saúde. Nasci em uma família de médicos e aprendi desde cedo a questionar o status quo. Me formei em 2011 pela Faculdade de Medicina da UERJ, tirei dois títulos em duas especialidades médicas diferentes em menos de 5 anos de formado e criei junto com meu irmão, Dr. Gabriel Azzini, o programa Homem Super Saudável. Hoje tenho um dos principais podcasts do Brasil, mais de 2.000 mil alunos e centenas de milhares de seguidores no Youtube, Instagram e Podcast. Minhas obsessões incluem células tronco, terapias de crescimento capilares, modulação hormonal, jejum intermitente e suplementação regenerativa.