Teflon (Politetrafluoroetileno)
O Teflon, nome registrado pela DuPont para representar o politetrafluoroetileno, PTFE, é um polímero da classe dos fluorpolímeros que foi primeiramente sintetizado em 1938 pelo químico americano Roy Plunkett que, na época, trabalhava na empresa DuPont e buscava sintetizar um novo gás refrigerante que substituísse o clorofluorcarboneto (CFC).
Onde é Usado
É amplamente usado na indústria, uma vez que apresenta resistência ao ataque de ácido corrosivo, reatividade praticamente nula, ponto de fusão de 326.8 ºC, insolubilidade em solventes, repelência à água e criação de superfície antiaderente.
O Teflon é empregado em semicondutores, coletes à prova de balas, componentes em graxas, estruturas de aviões e carros, pesticidas; foi utilizado no processo de enriquecimento de urânio no Projeto Manhattan, é utilizado em próteses vasculares, telas de contenção de hérnias, além de outros usos na medicina. Seu uso mais conhecido é em utensílios de cozinha, principalmente panelas.
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O Teflon e Os Riscos à Saúde
As panelas revestidas de Teflon são vastamente utilizadas pelas pessoas em virtude de sua comodidade, afinal, os alimentos não grudam no fundo das panelas, o que dispensa o uso de gorduras e óleos para o cozimento.
No entanto, o revestimento de politetrafluoroetileno apresenta sérios riscos à saúde, visto que essa substância, ao ser exposta às altas temperaturas, se deteriora.
Gorduras, óleos e manteiga começam a queimar e fumaçar em cerca de 200 º C, e carnes geralmente são fritas entre 200ºC e 230 ºC, mas pontos quentes (hot spots) na panela podem facilmente exceder essa temperatura, visto que o Teflon começa a se deteriorar após 260 ºC e começa a se decompor significativamente em temperaturas acima de 350 ºC.
Essa deterioração do PFTE libera toxinas. A exposição aguda às toxinas podem provocar sintomas gripais, como febre, mal-estar e tosse, quadro conhecido como “gripe do Teflon” ou “febre polimérica” e esses sintomas ocorrem de 4 a 10 horas após a exposição e, sob condições normais, desaparecem de 12 a 48 horas. Também, a exposição às essas toxinas podem irritar os olhos, pele e mucosas.
Efeitos a Longo Prazo
Apesar da exposição aguda ser problemática, podendo induzir até mesmo a edema pulmonar, estudos sobre a exposição crônica em humanos não foram performados, mas os efeitos a longo prazo às substâncias danosas oriundas do Teflon muito provavelmente devem seguir o mesmo padrão deletério das substâncias per- ou polifluoroalquiadas (SPFAs ou per- or polyfluoroaklyl substances, PFAS) ou compostos químicos perfluorados (perfluorinated compounds, PFCs), especialmente neurotoxicidade e associação com mal de Alzheimer, problemas na glândula tireoide, câncer e outros problemas de saúde.
Estudo Realizados
Em um trabalho realizado em 2010 e publicado no periódico Environmental Health Perspectives para avaliar a relação entre Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças de 12 a 15 anos e exposição aos PFCs, foram usados dados da Pesquisa de Exame Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos (National Health and Nutrition Examination Survey, NHNES) dos anos 1999-2000 e 2003-2004 e os resultados do estudo são consistentes com uma correlação positiva entre níveis séricos altos de PFCs e chance aumentada de ocorrência de TDAH.
Ademais, com o aumento do aporte de toxinas no sistema humano, o sistema de desintoxicação, com fins de defesa, acaba por provocar inflamação e se esse aporte for contínuo, quadros de inflamação crônica são percebidos e, com eles, marcadores inflamatórios como proteína c-reativa são aumentados, o que aumenta possibilidades para aquisição de doenças em virtude da fragilização do sistema imunológico.
O Ácido Presente No Teflon
Novamente, nesse processo de decomposição termoquímica, são liberados partículas e gases tóxicos, incluindo o ácido trifluoroacético, ácido fluorídrico, tetrafluorometano e outros fluorpolímeros. Também, é liberado o ácido perfluorooctanoico, o PFOA (perfluorooctanoic acid), que é conhecido pelo seu nome alternativo, C8.
Esse ácido é utilizado na síntese do PTFE e, apesar de ser queimado após o processo, está presente em pequenas quantidades no produto, que é o Teflon.
Apesar da maior parte da contaminação por PFOA não ser resultante das panelas de Teflon em si, esse composto é encontrado principalmente em águas, visto que é um resíduo despejado no ambiente e não é biodegradável, sendo considerado um composto eterno que persiste na natureza e se acumula na cadeia alimentar.
Com isso, o PFOA se faz presente no sangue de toda a população que consome água, ar e alimentos contaminados.
Estudo
As evidências concretas disso foram evidenciadas por um estudo realizado em 2007 pelo periódico Environmental Health Perspectives [que avaliou dados da NHNES do biênio de 2003-2004 com o de 1999-2000 e constatou que, após avaliação de 2,094 amostras sanguíneas, o PFOA estava presente em mais de 2,052 amostras, o que resulta em assustadores mais de 98% de amostras contaminadas com ácido perfluorooctanoico.
A nível brasileiro, o PFOA também foi encontrado nas águas em um trabalho que buscou avaliar a eficácia do tratamento de esgoto, junto a fármacos, substâncias ilícitas, adoçantes e pesticidas.
Além da presença de PFAS nos recursos hídricos, no ar e nos alimentos, esses compostos estão presentes em diversos outros objetos de comum contato. Caixas e pacotes de alimentos, especialmente fast food, contém PFAS e são uma fonte silenciosa de contaminação. Produtos de impermeabilização de estofados e roupas hidrorrepelentes também apresentam PFAS em sua composição.
Fabricação do C8
A respeito da fabricação do PFOA, a empresa detentora do nome “Teflon”, DuPont, se envolveu em diversas polêmicas desde o primeiro processo em que se envolveu em 1999 contra Wilbur Tennant, um fazendeiro de Parkersburg, Virginia Ocidental, Estados Unidos, que possui uma fazenda ao lado do aterro de despejo de resíduos da DuPont.
As vacas de Wilbur agiram de forma estranha após os resíduos contaminarem o riacho Dry Run, que passa pelo aterro e fazenda de Tennant. Inclusive, cerca de 150 cabeças de gado de Tennant foram a óbito. Tennant gravou um vídeo no qual uma água verde com bolhas na superfície aparece. Essa água continha o C8 utilizado na fabricação do Teflon.
O Contato Com o C8
A DuPont comprou o C8 da Minnesota Mining and Manufacturing Company, a 3M, que especificou como o C8 deveria ser manuseado, o que inclui o não despejo em águas, no entanto, a DuPont ignorou essas orientações e o fez da mesma forma. Também, a 3M, junto da DuPont, realizou estudos que atestaram a nocividade do C8: animais expostos ao C8 desenvolviam tumores testiculares, pancreáticos e hepáticos.
Níveis altos de C8 no sangue foram associados a câncer de próstata nos funcionários da DuPont. Outro ponto a ser destacado é que era sabido pela DuPont que a exposição ao C8 poderia causar má formação congênita e que de 7 nascimentos de filhos de funcionárias da empresa, em 2 ocorreram defeitos de nascimento, a exemplo de Bucky Bailey, filho da ex-funcionária Sue Bailey, que nasceu com má formação de olhos e nariz .
Esses efeitos deletérios do C8 eram amplamente conhecidos pela DuPont, uma vez que detinha uma coleção de documentos da década de 1970 até os anos 2000 sobre o assunto que, inclusive, foi entregue para Tennant em meio ao processo e está disponível na Livraria de Documentos da Indústria Química (Chemical Industry Documents Library). Inclusive, esta história serviu como base do filme “Dark Waters” (“O Preço da Verdade” no Brasil) lançado em 2019.
Contaminação Da População Por C8
Um outro fruto desse despejo de C8 nas águas de Virginia Ocidental é a contaminação de toda a população de Parkersburg, o que levou a uma ação coletiva contra a DuPont em 2001 realizada por moradores do vale do rio Ohio, na mesma cidade.
A DuPont ofereceu US$ 343 milhões divididos para os lesados, no entanto, as vítimas não aceitaram o pagamento individual e, em vez disso, decidiram por estabelecer um painel científico sobre o C8, o C8 Science Panel, que conta com diversos estudos científicos contendo evidências da nocividade do C8 no corpo humano.
Misteriosamente, o painel parou de ser atualizado em janeiro de 2020, porém, seu trabalho foi cumprido, de certa forma: até então, a exposição à água contaminada por c8 é a causa de 6 doenças diferentes.
Reportagens Sobre o Teflon
Os casos das vítimas da DuPont também é representado no documentário The Devil We Know (“O Diabo que Conhecemos”) lançado em 2019 e conta a história de residentes do local em que a empresa despejou o poluente.
Reportagens do The Intercept também relata a situação numa série investigativa denominada de “The Teflon Toxin”, que conta com relatos e histórias das vítimas. Além disso, essas histórias e outros fatos obscuros envolvendo a DuPont e empresas regulatórias são expostos na investigação realizados pelo The Intercept e esse dossiê, chamado de “Bad Chemistry”, está em atualização, inclusive, no ano de 2021.
Casos Dos Expostos Ao C8
Outro caso notável foi o da Dupont versus Kenneth Vigneron, que desenvolveu câncer nos testículos após ser exposto ao C8 pela água contaminada. A DuPont foi condenada a pagar US$ 2 milhões. A empresa perdeu outras duas ações, o que resultou em uma perda de US$ 7.2 milhões para os seus cofres.
O primeiro caso, ocorrido em outubro de 2015, envolveu uma mulher que recebeu US$ 1.6 milhão ao ser atestado que a exposição ao C8 foi a causa do seu câncer de rim. O segundo caso envolveu um homem que teve câncer de testículo que recebeu US$ 5.1 milhões, com um adcional de US$ 500,000 em danos punitivos após ser atestado que a DuPont agiu maliciosamente. A DuPont, até 2016, tinha 3,400 processos pendentes por causa dos vazamentos de C8 no ambiente.
Novo Ácido, Mesmo Resultado
Depois de todas as polêmicas envolvendo o C8, a DuPont diz ter abandonado esse composto e o substituiu pelo ácido de óxido hexafluoropropileno dímero, batizado pela empresa de GenX. Esse compromisso foi firmado em 2005 e a empresa diz ter cumprido em 2015.
Apesar desse fato, os estudos realizados em animais expostos ao GenX apresentaram o mesmo resultado desastroso do C8. Também, a prática de desepejar restos de produção em águas não foi abandonada pela DuPont, foi o que constatou uma empresa fornecedora de água na Carolina do Norte, a Cape Fear Public Utility. Essa fornecedora atestou que a Chemours, uma subsidiária da DuPont, despejou o GenX em um rio local, o que resultou em uma punição em forma de multa no preço de US$ 12 milhões.
Em suma, a produção de Teflon não só tem danos a quem se expõe a esse polímero sob certas condições, mas também, promove malefícios ao meio ambiente, uma vez que os subprodutos de sua síntese são jogados em afluentes e, assim, contaminam todo o ecossistema, que engloba animais, pessoas e plantas.
Medidas Para Diminuir a Exposição Ao Teflon
Diante disso, os consumidores podem tomar algumas medidas para diminuir a exposição ao Teflon, seus subprodutos e outras PFAS. Trocar de utensílios de cozinha de Teflon por materiais atóxicos como aço inox, cerâmica sem chumbo, barro ou vidro é uma alternativa crucial.
Caso não haja condições de troca de panelas e outros artigos de cozinha, a troca de panelas desgastadas, a ventilação da cozinha, o não pré-aquecimento das panelas, o cozimento a fogo médio ou baixo e a lavagem das panelas com material não abrasivo são fatores de extrema importância e que reduzem a exposição.
Outra medida importante é não usar roupas hidrorrepelentes e/ou à prova de sujeira, bem como cessar o contato com carpetes, estofados e móveis tratados com impermeabilizantes e camadas que repelem manchas.
Quanto à exposição de PFAS na água, uma solução mais elaborada e ideal como um filtro de osmose reversa combinado a um filtro de carvão ativado pode ser aplicada.
Caso o recurso financeiro para tal não seja o bastante, um filtro de carvão ativado, apesar de não ser tão eficiente quanto o de osmose reversa sozinho e o de osmose reversa combinado com carvão ativado, pode solucionar parte do problema.
No entanto, caso a condição financeira seja favorável, entre escolher um filtro apenas de osmose reversa e apenas de carvão ativado, a melhor alternativa é optar pelo filtro de osmose reversa.
Por último, evitar ou não consumir fast food e comidas empacotadas também ajuda na diminuição da exposição às PFAS.
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