Exames De Rastreamento Simples

 

O Que É Screening Ou Rastreamento?

 

Screening ou rastreamento é o ato de detectar precocemente algum quadro subclínico — indivíduos assintomáticos — em grupo de indivíduos que potencialmente podem desenvolver alguma patologia dadas certas condições características prévias e condições de saúde. O screening ou rastreamento é realizado por meio de exames e/ou testes. É, literalmente, rastrear um certo segmento populacional com a intenção de agir o mais rápido possível e promover tratamentos e mudanças de estilo de vida.

 

Para que seja dedicado um rastreamento de alguma patologia, essa deve ser um importante problema de saúde pública no que se refere à magnitude (incidência e prevalência da patologia), transcendência (severidade da patologia) e vulnerabilidade (disponibilidades de recursos para tratamento da patologia.

 

Também, a patologia deve existir estágio pré-clínico definido, onde se possa diagnosticar, deve haver um benefício na detecção precoce e esse benefício deve ser maior do que aquele obtido se a doença seguisse seu curso natural. Por último, os exames devem estar disponíveis, serem aceitáveis e confiáveis.

 

Os exames de rastreamento podem ter naturezas bioquímica (exames de colesterol e glicose, p. ex.), fisiológica (exames de pressão sanguínea e curvas de crescimento, p. ex.), radiológica (mamograma e exame de densitometria óssea, p. ex.) e citológica (exame preventivo de câncer de colo de útero, p. ex.).

 

 

Dentro do âmbito do rastreamento, há recomendações para certos tipos de exames e essas são divididas em graus. O grau A se refere às medidas com benefício substancial evidenciado. O grau B é referente às medidas com benefício substancial a moderado. O grau C configura medidas condicionadas ao quadro e situação do paciente, uma vez que uma medida com recomendação de grau C é aberta às margens de condição vigente do indivíduo e, assim, o profissional pode optar por fazer ou não o exame de rastreamento. O grau D se refere às medidas que não têm benefício ou que causam danos. Por fim, o grau I representa as medidas que cujos benefícios e danos são impossíveis de serem avaliados .  

 

•  Grupo de risco

 

Há a segmentação da população em grupos de risco para determinadas condições em virtude da idade, hábitos e sexo. A exemplo disso, há a determinação do risco cardiovascular, que apresenta dois grupos de risco: baixo/intermediário e alto.

 

O grupo de risco cardiovascular baixo/intermediário contém indivíduos tabagistas, hipertensos, obesos, sedentários, indivíduos com histórico familiar comprometido, homens e indivíduos acima de 65 anos. O grupo de risco cardiovascular alto é composto por indivíduos que já tiveram um ou mais acidentes vasculares cerebrais ou infarto agudo do miocárdio, lesão de órgão-alvo, ataque isquêmico transitório, hipertrofia ventricular esquerda e indivíduos diabéticos.

 

Em relação aos critérios de diferenciação entre indivíduos de risco cardiovascular intermediário e baixo, faz-se scores de risco se o indivíduo apresentar mais de um fator de baixo risco. O score mais utilizado é o Score Cardiovascular de Framingham, que indica o grau de risco de ocorrer a patologia em 10 anos e avalia dados como pressão arterial e níveis de colesterol associado à low density lipoprotein (LDL).

 

Exames Comuns De Rastreamento

• Perfil Lipídico

 

Os exames de rastreamento de perfil lipídico avaliam os níveis de colesterol, colesterol-LDL, colesterol-HDL e triglicerídeos. O risco de complicações cardiovasculares é aumentado quando se tem um perfil lipídico desfavorável. 

 

Apesar disso, pessoas podem ter cardiopatias sem apresentarem perfil lipídico não adequado às condições individuais ótimas do paciente.

 

É recomendado, com grau A, para homens acima dos 35 anos e mulheres acima dos 45 anos. Com grau B de recomendação, é indicado para homens de 20 a 35 anos e mulheres de 20 a 45 anos, ambos com alto risco.

 

• Glicemia E Perfil Insulínico

 

Os testes de medição de glicose em jejum de 8 ou 12 horas são realizados para avaliar se a glicose de um dado paciente está acima dos níveis estabelecidos como recomendados. Uma problemática desse teste é que, comumente, é realizado pela parte da manhã e é justamente nesse período que pode ocorrer o efeito do alvorecer ou efeito alvorada: um aumento momentâneo e não patológico da glicemia em jejum.

 

 

 

Esse fenômeno ocorre em indivíduos portadores de diabetes do tipo 2, mas também pode ocorrer em indivíduos saudáveis, uma vez que pode haver a liberação de potencializadores da resistência insulínica como o cortisol, GH e glucagon. Esse efeito também pode ocorrer devido a uma alta consumação de carboidratos antes de dormir, bem como níveis insuficientes de insulina e consumo insuficiente de medicações antidiabéticas. 

 

Há também os exames que indicam a taxa de hemoglobinas glicadas/glicosiladas (Hb A1c) no sangue. Essa taxa é um importante fator de monitoração da glicemia a longo prazo. No entanto, não é indicado para diagnóstico de diabetes. O exame de insulinemia também pode ser útil para detectar anomalias relacionadas ao metabolismo da glicose.

Apresentam grau de recomendação B para todos os adultos e crianças maiores de 6 anos obesos e indivíduos diabéticos com pressão arterial maior que 135/80. 

 

Para indivíduos normais, os níveis de glicose em momento aleatório deve ser menor que 200 mg/dL; em jejum, abaixo de 100 mg/dL; e, duas horas após uma refeição, abaixo de 140 mg/dL.

 

Para reconhecimento de quadros de pré-diabetes, não há níveis normais de glicose em momento randômico; em jejum, a glicemia deve ser de 100 a 125 mg/dL; e, duas horas após uma refeição, de 140 a 199 mg/dL.

 

Em reconhecimento de quadros de diabetes, o nível de glicose em momento randômico deve ser maior ou igual a 200 mg/dL; em jejum, maior ou igual a 126 mg/dL; e, duas horas após uma refeição, igual ou maior 200 mg/dL.  

 

• Aferição De Pressão Sanguínea 

 

Os exames de aferição de pressão arterial (medida em mm Hg) são utilizados para detectar diferentes quadros de hipertensão arterial sistêmica (HAS), sendo eles o normal, no qual não há patologia; pré-hipertensão, no qual há níveis de pressões sistólicas e diastólicas limítrofes.

 

HAS 1: estágio primário de hipertensão no qual os níveis de pressão sistólica e diastólica variam de 140 a 159 e de 90 a 99, respectivamente; HAS 2: estágio secundário de hipertensão no qual os níveis de pressão sistólica e diastólica variam de 160 a 179 e de 100 a 109, respectivamente; e HAS 3: estágio terciário de hipertensão no qual os níveis de pressão sistólica e diastólica superam 180 e 110, respectivamente. 

 

É importante ressaltar que se deve realizar um monitoramento contínuo, uma vez que no dia específico da medição, possa ter havido alguma alteração sistêmica no paciente que resultou em uma anormalidade no exame. 

 

O diagnóstico e tratamento precoce da hipertensão é fundamental, visto que é um dos fatores de risco mais importantes para cardiopatias e alterações da parede arterial, venosa e capilar. Também, ajuda a prevenir insuficiências renais e acidente vascular cerebral (AVC). 

 

• Mamograma

 

O mamograma é um exame de raios-X feito nos seios que buscam averiguar se há presença de cistos ou massas sólidas com potencial maligno.  Apresentam grau B de recomendação para mulheres com idades entre 50 e 75 anos feitos de forma bianual, associados a exames clínicos de mama anuais. Apresenta grau C de recomendação para mulheres com idade abaixo de 50 anos. 

Também, é indicado que mulheres com idades dentre 40 a 49 anos após alteração do exame clínico da mama. 

 

 

• Teste De Papanicolau/exame Preventivo Para Câncer De Colo De Útero

 

Teste de Papanicolau é um exame ginecológico que pega amostras de células oriundas do cérvix (o canal estreito e inferior do útero) de mulheres para averiguar se há alguma mudança citológica que indiquem câncer cervical.

 

Apresenta grau A de recomendação para mulheres sexualmente ativas e/ou com cervicite (inflamação do cérvix). É indicado que se faça anualmente, porém, se os dois resultados anteriores do exame forem negativos, recomenda-se que se faça o teste de Papanicolau a cada 3 anos. No entanto, apresenta grau D de recomendação para mulheres maiores de 65 com resultados prévios negativos. 

 

• Exame De Presença De Sangue Oculto Nas Fezes (Pso)

 

Esse exame busca detectar a presença de sangue nas fezes, visto que a presença de hemoglobina nas fezes pode ser um indicativo de crescimento cancerígeno de câncer colorretal.  

 

Apresenta grau A de recomendação para indivíduos dentre 50 a 70 anos; grau C de recomendação para indivíduos dentre 76 a 85 anos; e grau D de recomendação para indivíduos maiores de 85 anos. 

 

• Colonoscopia

 

O exame de colonoscopia é um exame em que há o uso de um colonoscópio, instrumento que transmite uma imagem do cólon para que se observe se há ou não anormalidades. O colonoscópio é inserido pelo reto e e percorre o intestino grosso. 

 

Apresenta grau os mesmos graus de recomendação para as faixas etárias. No entanto, se o exame de PSO for positivo, é indicado que se faça uma colonoscopia ou sigmoidoscopia, que avalia apenas a porção sigmoide do cólon.

 

• Teste De Guthrie (“Teste Do Pézinho”)

 

O “teste do pezinho” é o teste que detecta várias anormalidades congênitas, mas que, originalmente, foi feito para detectar a ocorrência de fenilcetonúria, uma condição congênita e metabólica, na qual não há produção da enzima fenilalanina hidroxilase e que age na degradação do aminoácido fenilalanina, dessa forma, esse composto acumula-se no sangue e é extremamente tóxico, principalmente para o cérebro, o que pode levar à dano cerebral e convulsões.

 

É de extrema relevância que se faça esse exame de rastreamento, uma vez alimentos como a carne vermelha e carne de peixe são ricos em fenilalanina e indivíduos com fenilcetonúria precisam implementar restrições dietéticas. 

 

Atualmente, o teste de Guthrie é realizado, também, para detecção de anemia falciforme, uma anomalia sanguínea que faz com que as hemácias adquiram forma de foice. Essa hemoglobinopatia faz com que as hemácias se juntem e, consequentemente, impeçam o fluxo sanguíneo. Outra utilidade do teste de Guthrie é a detecção de hipotireoidismo congênito. O teste mede os níveis de TSH e T4 livres;

 

O teste de Guthrie é feito a partir da colheita de uma amostra sanguínea do calcanhar do neonato e o sangue é depositado em um cartão (cartão de Guthrie) para secar e, posteriormente, ser testado. Apresenta grau A de recomendação para neonatos.

 

 

• Triagem Auditiva Neonatal Universal/exame De Emissões Otoacústicas Evocadas (“teste Da Orelhinha”)

 

A Triagem Auditiva Neonatal Universal é um teste realizado em recém-nascidos e é realizado por meio da produção de estímulos sonoros e na captação do seu retorno através de uma sonda introduzida na orelha do neonato.

 

É feito com o recém-nascido enquanto dorme e é realizado a partir de 48 horas de vida. Realiza-se a Triagem Auditiva Neonatal Universal para atestar se o indivíduo apresenta alguma deficiência auditiva. Apresenta grau B de recomendação. 

 

• Triagem Ocular Neonatal (“teste Do Olhinho”)

 

Triagem Ocular Neonatal é um teste realizado em recém-nascidos. É feito por meio de uma emissão de um feixe de luz no olho do neonato e busca verificar a presença de um reflexo vermelho ou alaranjado. A ausência desse reflexo pode representar deterioração ocular causada por doenças como catarata e glaucoma. Apresenta grau B de recomendação.  

 

 

REFERÊNCIAS

 

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