Cereal Matinal: A Estranha História

historia do cereal

A história Dos Cereais


A história dos cereais matinais começa com
John Harvey Kellogg (1852-1943): médico, nutricionista, inventor e ativista da saúde americano. Além de fervoroso devoto da  religião Adventistas do Sétimo Dia,  apologista de um regime alimentar vegetariano.

 

Além disso, John Kellogg acreditava fervorosamente na abstinência sexual, pois para ele, o sexo  seria prejudicial ao bem-estar físico, emocional e espiritual.

 

Ele mesmo se absteve de sexo com sua esposa(e parece ter passado a lua de mel trabalhando em um de seus livros anti-sexo) , e todos os seus filhos eram adotados. 

 

Pior que o sexo seria a masturbação, e em suas palavras “se o comércio ilícito dos sexos é um pecado hediondo”, escreveu Kellogg, “a autopoluição é um crime duplamente abominável”. 

 

Em seu livro, Plain Facts for Old and Young: Embracing the Natural History and Hygiene of Organic Life, ele descreveu o os “efeitos negativos” da masturbação, como mudanças de humor, má postura, acne, calvície, articulações rígidas e palpitações como efeitos colaterais do crime “duplamente abominável”.

 

Jonh Kellog acreditava que a carne e certos alimentos saborosos ou temperados aumentavam o desejo sexual e que a solução para isso era o consumo de alimentos mais  simples, como cereais e nozes.

 

Em 1876, J Kellog assumiu a direção do Sanatório de Battle Creek em Michigan, fundado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.

 

Na época, sanatórios eram como resorts que combinavam aspectos de um spa, um hospital e um hotel de alta classe. No Sanatório, Kellog tratava tanto os ricos quanto os pobres que não podiam pagar por outros hospitais. 

 

A indigestão era um problema de saúde bastante comum na América do final do seculo XIX e John Kellog, preocupado com a alimentação dos seus pacientes, procurava uma alternativa para o café da manhã de fácil digestão, pré-preparado e saudável. 

 

Os pacientes do sanatório eram alimentados com uma dieta vegetariana, que incluia pão duro assado duas vezes e servido com manteiga, água ou leite.

 

Entretanto, após uma de suas pacientes quebrar a dentadura no pão e ameaçar processá-lo, Kellog precisou pesquisar por alternativas ao café da manhã. 

 

Assim, decidiu visitar o Dr. James Caleb Jackson, diretor do Sanatório Jackson em New York.

 

Dr. Jackson também acreditava em uma dieta rica em frutas, vegetais e grãos e assim ele criou uma espécie de nuggets feitos de farelo e farinha de graham, duros e insossos, que precisavam ser deixados de molhos durante a noite para se tornarem mastigáveis, que ele chamava de “granula”.

 

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Criação Do Cereal

 

John Kellog levou a ideia para o seu sanatório e criou um biscoito de aveia, trigo e fubá de milho, que chamou biscoito Granula, sendo então processado por Jackson. O problema foi resolvido com Kellog modificando o nome do biscoito para “granola”. 

 

No Sanatório de Battle Creek também trabalhava seu irmão mais novo, William Keith Kellogg (1860-1951) como contador, e os irmãos se dedicaram a encontrar a receita perfeita de um alimento matinal saudável, pronto para comer e que reduzia o desejo sexual, pois de acordo com o Dr. Kellog, “o cafe da manhá é a refeição mais importante do dia”

 

Assim, eles fizeram várias tentavias com diferentes tipos de pães e com o uso de massa de grãos inteiros para fazer finas folhas enroladas de biscoitos torrados.

 

Um dia, depois de cozinharem trigo, eles tiveram que se ausentar de deixara, a massa fermentando por um longo periodo de tempo.

 

Quando voltaram, passaram o trigo resfriado pelas finas folhas enroladas e levemente mofadas e com isso, cada grão ficou achatado em um floco individual.

 

Em 1898, eles tentaram usar milho ao invés de trigo, e aí surgiu os “flocos de milho”, o que consideraram extremamente saudável e que atendia suas ideias de alimento insosso, evitando assim a compulsão sexual que os alimentos saborosos causavam em quem os consumisse. 

 

Os irmãos patentearam seus flocos de cereais e formaram a Sanitas Food Company para vendê-los pelo correio, principalmente para ex-pacientes do Sanatório.

 

Entretanto, as vendas estavam mais baixas do que o esperado, e William Kellog – que tinha mais senso de negócio e menos interessa na pureza da dieta que seu irmão – teve a ideia de torná-lo mais saboroso com a adição de açúcar – um pensamento herético para John Kellog. 

 

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Finalmente em 1906, William comprou os diretiros do seu irmão, mudou a receita e fundou a Battle Creek Toasted Corn Flake Company.

 

Após uma longa briga com seu irmão John, William conseguiu usar o nome “Kellog” e a empresa passou a se chamar Kellog Ceral Company.

 

William deixou de fora a alegação original de que os flocos de milho reduziriam a masturbação, e focou no marketing de ser a opção mais saudável de café-da-manhã, destinando grande parte dos lucros à publicidade. 

 

Desde a sua produção original até hoje os flocos de milhos tiveram sua receita modificada drasticamente, sendo aromatizados com sal, açúcar, malte, e receberam ingredientes adicionais como corantes artificiais, flocos glaceados de açúcar e flocos de milho com mel e nozes. 

 

Em 1907, John Kellog foi expulso da Igreja Adventista do Sétimo Dia, principalmente por conta de seus pensamentos extremamente racistas contra afro-americanos, asiáticos e europeus orientas.

 

John Kellog passou os últimos 30 anos de sua vida desenvolvendo a ciência da eugenia, e o Sanatório de Battle Creek se tornou um epicentro para o movimento eugênico.

 

Estranhamente, a maioria dos seus 40 filhos adotivos eram afro-americanos ou latino-americanos. 

 

Novos Cereais

 

Enquanto isso, nos anos 1910 os avanços tecnológicos na indústria alimentícia permitiram novas versões de cereais contendo trigo e arroz no lugar de milho.

 

A partir daí, surgem outras empresas e novas tecnologias de fabricação, baseadas sobretudo no marketing. 

 

Nos anos 1920 foi lançado o cereal Wheaties®, como resultado de um derramamento acidental de uma mistura de farelo de trigo em um fogão quente por um médico de Minnesot que trabalhava para a empresa General Mills.

 

A grande jogada de marketing da empresa foi associar-se aos esportes, com fotos de jogadores de beisebol estampada nas embalagens e o slogan “o café da manhã dos campeões”. 

 

Após a entrada das TVs nos lares, o marketing sobreudo voltado para as crianças tornou-se forte e trazia versões divertidas dos cereais lotados de açúcar, sabores e cores artificiais (alguns desses sabidamente carcinogênicos e responsáveis pelo aumento dos casos de TDAH) e apresentadas em comerciais com personagens de desenhos animados.

 

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Dentre as opções que se dizem “mais saudáveis” de cereais, destaca-se o Cheerios®, cereal que consiste em aveia puverizada no formato de um toro sólido (como uma “rosquinha”), destinada a adultos mas com versões mais açucaradas para crianças.

 

A promessa, com o consumo desse cereal, era a diminuição do colesterol em 4% em 6 semanas.

 

Essa promessa fez com o FDA intervisse, em 2009, indicando que a General Mills (empresa fabricante) deveria mudar a forma como comercializava o produto ou solicitar aprovação federal para vender o cereal como medicamento; entretanto a empresa respondeu com uma declaração de que sua alegação de conteúdo de fibra solúvel havia sido aprovada pelo FDA, e que alegações sobre a redução do colesterol estavam na caixa há dois anos.

 

A  mudança nos padrões do que é considerado uma dieta saudável nos últimos anos trouxe versões mais “saudáveis” dos cereais, nas versões integrais e contendo menos açúcar e sem corantes e sabores artificais.

 

Entretanto, iniciar o dia com uma carga alta de carboidratos não é uma boa ideia. 

 

Um artigo publicado no  International Journal of Obesity comparou o consumo de carboidrato e o consumo de proteína e gordura no café da manhã, ambos com a  mesma quantidade calórica.

 

Após 8 semanas, as pessoas que consumiram proteinas e gorduras no café da manhã tiveram uma perda 61% do IMC; perda de peso de 64%; redução de 34% da circunferência da cintura e melhora de 16% da gordura corporal total.

 

Tudo isso, simplesmente mudando o macronutriente ingerido no café da manhã. 

 

 

 

 

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Referências:

 

  1. The Wild History of Cerea and Public Health. Shawn Stevenson. Youtube.
  2. Jackson Sanatorum. https://www.atlasobscura.com/places/jackson-sanitarium
  3. The Strange History of Corn Flakes. https://www.dailykos.com/stories/2014/10/23/1331075/-The-Strange-History-of-Corn-Flakes
  4. The Strange Story Behind Your Breakfast Ceral. https://daily.jstor.org/the-strange-backstory-behind-your-breakfast-cereal/
  5. How an Accidental Invention Changed What Americans Eat for Breakfast. https://www.history.com/news/cereal-breakfast-origins-kellogg
  6. Cheerios. https://en.wikipedia.org/wiki/Cheerios
  7. Wheaties. https://en.wikipedia.org/wiki/Wheaties
  8. Wal, J., Gupta, A., Khosla, P. et al. Egg breakfast enhances weight loss. Int J Obes 32, 1545–1551 (2008).

Sobre o autor | Website

Sou médico, empresário e apaixonado por saúde. Nasci em uma família de médicos e aprendi desde cedo a questionar o status quo. Me formei em 2011 pela Faculdade de Medicina da UERJ, tirei dois títulos em duas especialidades médicas diferentes em menos de 5 anos de formado e criei junto com meu irmão, Dr. Gabriel Azzini, o programa Homem Super Saudável. Hoje tenho um dos principais podcasts do Brasil, mais de 2.000 mil alunos e centenas de milhares de seguidores no Youtube, Instagram e Podcast. Minhas obsessões incluem células tronco, terapias de crescimento capilares, modulação hormonal, jejum intermitente e suplementação regenerativa.