Aterramento – História e Benefícios

 

Pés na grama

 

De pés descalços na terra, ou deitado na areia da praia, quem nunca se sentiu “com a energia renovada” após um tempo em contato com a natureza? E Essa sensação pode ser mais real do que se pensa e com fundamentos físicos e biológicos. 

 

No final do século 19, um movimento de “volta à natureza” surgiu na Alemanha, garantindo que os pés descalços na natureza poderiam trazer muitos benefícios à saúde (Chevalier et al., 2012), apesar de faltar bases científicas naquele momento. 

 

No final de século 20, Clint Ober nos EUA e Karol Sokal (pai) e Pawel Sokal (filho) na Polônia (Chevalier et al., 2012) conduziram experimentos que provariam que estar com contato com a Terra – Earthing – estabiliza o corpo humano assim como o aterramento dos aparelhos elétricos – Grounding – e assegura o adequado funcionamento de uma instalação ou máquina.

 

Mecanismo

 

A superfície do planeta é afetada eletricamente por radiação solar, raios cósmicos e por inúmeros relâmpagos (Menigoz et al., 2020), criando uma corrente contínua de milhares de amperes que transfere carga positiva para a ionosfera (cerca de 100 km acima de nós)  e carga negativa para a superfície da Terra (site revistamedicinaintegrativa).

 

Esse campo eletromagnético criado entre a ionosfera e a Terra possui uma ressonância – conhecida como Ressonância de Schumann (físico alemão que primeiro a descreveu) da ordem de 7,83 Hz de frequência (site vidaplenaebemestar).

 

Visando a segurança de instalações elétricas, o aterramento se vale da carga negativa da terra, ao ligar um sistema ou equipamento à terra através de um componente condutor, para que seja possível o escoamento de cargas de fuga do sistema / equipamento (site cursonr10.com).

 

Segundo a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), aterrar significa “colocar instalações e equipamentos no mesmo potencial da terra”, assim protegendo o ser humano contra os perigos de um choque ou descarga elétrica.

 

História 

 

Clint Ober, inicialmente instalador de sistemas de TV a cabo em Montana (EUA) nos anos 1960 e depois fundador da Telecrafter Corporation (maior provedor de serviços de instalação de cabos dos Estados Unidos) foi uma das pessoas que primeiro fez a associação entre o aterramento e a estabilidade dos aparelhos elétricos e a utilização desse princípio para normalizar o funcionamento de todos os sistemas do corpo.

 

Para Ober, “o corpo humano utiliza o potencial elétrico da Terra e elétrons livres para manter sua estabilidade elétrica interna normalizando todos os seus sistemas de autorregulação” (site ultimatelongevity).

 

Ao longo da História, o ser humano sempre caminhou com os pés descalços ou cobertos com pele de animais; dormia diretamente no solo ou também sobre pele de animais (Chevalier et al., 2012). Mas, a vida moderna deixou esse cenário para trás e atualmente usamos sapatos com sola de plástico ou borracha isolante, as camas são isoladas do chão e trabalhamos em ambiente onde o chão possui isolamento elétrico (Chevalier et al., 2012; Chamberlin et al., 2014). Porém, essa mudança de comportamento e costumes nos isola da carga elétrica negativa natural da Terra (Menigoz et al., 2020). 

 

Os Processos Fisiológicos

 

James Oschman, um dos defensores da teoria do Aterramento, relembra que todos os processos fisiológicos do corpo humano têm um aspecto elétrico, seja em nível molecular, celular, tecidual ou orgânico (site revistamedicinaintegrativa.com). De fato, podem ser citados como exemplo o DNA com sua carga elétrica positiva; os canais iônicos da membrana celular que permitem a troca de íons entre o interior e o exterior da célula; o potencial de membrana das células que permitem a transmissão de sinais entre células como as nervosas e musculares, ou a ativação de funções celulares como macrófagos; o batimento ritmado do coração, o peristaltismo intestinal, o controle neuronal do ritmo da respiração; a manutenção da homeostase através do pH e dos eletrólitos intra e extracelulares, como sódio, potássio e cloro, essenciais para processos metabólicos fundamentais à vida (Guyton & Hall, 2017). 

 

 

Entretanto, além de atualmente vivermos em um ambiente isolado eletricamente, com calçados e superfícies pavimentadas isolantes, estamos também constantemente atrelados ao uso de dispositivos eletroeletrônicos, principalmente celulares, e as consequentes alterações na saúde já são conhecidas pela comunidade médica e científica como Hipersensibilidade eletromagnética (HE) ou “síndrome do micro-ondas” com efeitos biológicos no nível celular de campos eletromagnéticos em frequências magnéticas e de radiofrequência em intensidades extremamente baixas. 

 

A síndrome clínica é caracterizada pela presença de um amplo espectro de sintomas envolvendo múltiplos órgãos não específicos, sendo mais afetado o Sistema Nervoso Central e os pacientes parecem ter seus sistemas de desintoxicação prejudicados pelo excesso de estresse oxidativo. Outros efeitos comuns na HE envolvem a pele, microvasculatura, sistema imunológico e hematológico (Stein & Udasin, 2020).

 

Objetivo Do Aterramento

 

Deitar na grama

 

O aterramento no caso dos seres humanos consiste literalmente em colocar os pés descalços em um ambiente natural (areia ou terra) promovendo assim o contato com os elétrons livres da superfície da Terra (Chevalier et al., 2012). O aterramento elimina a voltagem induzida no corpo pelas fontes de energia elétricas comuns (Chevalier et al., 2012). A transferência de elétrons livres da terra para o corpo resulta em mudanças fisiológicas rápidas, às vezes instantâneas, restaurando e mantendo um ambiente elétrico interno natural (Menigoz et al, 2020). 

 

Vias condutoras de eletricidade entre a superfície da pele e os tecidos ou órgãos são utilizados em uma variedade de ferramentas de diagnóstico, como eletrocardiograma e eletroencefalograma. Essas técnicas utilizam eletrodos na pele para detectar campos elétricos gerados pelo coração e cérebro, respectivamente. Obviamente, o circuito também funciona na direção inversa, ou seja, da pele para o órgão e isso é demostrado pelo sucesso de várias terapias que utilizam microcorrente (Oschman, 2007). Utilizando a mesma lógica, podemos entender o caminho de condução dos elétrons da superfície da terra para a pele e daí para os órgãos na técnica de aterramento. 

 

Várias pesquisas foram desenvolvidas para comprovar o efeito do aterramento na saúde e os possíveis mecanismos de atuação. Somente Clint Ober realizou mais de 20 pesquisas nos últimos anos, que mostraram resultados impressionantes na melhora da inflamação, do sono, da circulação sanguínea, depressão, ansiedade, cansaço, fadiga, imunidade, função tireoidiana, cicatrização de feridas, desempenho atlético, somente para citar alguns (site ultimatelongevity).

 

As pesquisas de Sokal & Sokal também foram muito importantes para comprovar que o aterramento influencia nos processos bioelétricos, bioenergéticos e bioquímicos e oferecem efeito modulador significativo sobre as doenças crônicas (Menigoz et al., 2020). 

 

Efeitos Do Aterramento

 

Um dos efeitos mais poderosos do aterramento é a redução / eliminação da inflamação crônica, que como sabemos é a causa ou fator agravante para doenças crônicas relacionadas principalmente ao envelhecimentos e à dor, como Alzheimer, aterosclerose, doença intestinal, câncer, fibrose cística, diabete, esclerose múltipla, osteoporose, psoríase, artriste reumatoide (Oschman, 20070. Nesse sentido, a Terra age como analgésico e anti-inflamatório (Menigoz et al., 2020). A explicação está no fato de que os radicais livres (ou espécies reativas de oxigênio – ROS) presentes em grande quantidade em qualquer processo inflamatório são moléculas carregadas positivamente e que retiram elétrons do tecido saudável. O aterramento então neutralizaria os radicais livres (Oschman 2007; Menigoz et al., 2020). 

 

Outro benefício com o aterramento é a melhora no fluxo sanguíneo, relacionado com o potencial zeta. O potencial zeta refere-se à carga negativa na superfície dos glóbulos vermelhos do sangue, o que mantém o espaçamento das células na corrente sanguínea. Assim, quanto maior o potencial zeta, menor será a viscosidade do sangue e melhor será o fluxo sanguíneo.

 

Esse efeito do aterramento é uma das intervenções mais profundas para ajudar a reduzir o risco de danos cardiovasculares e as complicações da diabetes (Meningoz et al., 2020). A técnica de imageamento por infravermelho é bastante utilizada para demonstrar as áreas de melhora na circulação sanguínea, com resultados impressionantes.

 

Resultado do Aterramento

Melhora da circulação facial (direita) de uma mulher de 55 anos, após 20 minutos de aterramento (Amalu, 2004). 

 

A cicatrização de feridas crônicas também se beneficia do efeito do aterramento por melhorar o aporte sanguíneo na região ferida (Meningoz et al., 2020).

 

A redução do estresse, ansiedade e a melhora no humor e no sono são importantes efeitos observados com o aterramento e a explicação está na normalização dos níveis de cortisol e do sistema nervoso autônomo (mensurado através da variabilidade da frequência cardíaca e tônus vagal) (Ghaly & Teplitz, 2004; Meningoz et al., 2020).

 

O aterramento também correlaciona-se com a Ressonância de Schumann e a qualidade do sono pode exemplificar este fato, pois os ritmos elétricos diurnos da Terra definem os relógios biológicos dos hormônios que regulam o sono e a atividade (Oschamn, 2007).  

 

Uma das observações mais pontuadas pelas pessoas que começam no aterramento é a percepção de estarem mais jovens e descansadas. Uma pesquisa com 100 mulheres revelou que 75% delas descreviam estar de melhor humor, com mais energia e com a pele mais radiante, revitalizada e com cor, mesmo após uma única sessão curta de aterramento (Meningoz et al., 2020).

 

Atletas e o Aterramento

 

Em relação ao desempenho físico, o Dr. Jeffrey Spencer se especializou em trabalhar com atletas, atuando na vanguarda do desempenho. Ele atuou com equipes de ciclismo que competiram no Tour de France em 4 edições antes de utilizar o aterramento, e mais 3 edições utilizando a técnica. Comparando os dois momentos, ele pôde observar que os atletas submetidos ao aterramento apresentam redução da dor com menor uso de medicamentos analgésicos, melhor qualidade do sono, tempo de cicatrização mais rápido, menos adoecimento, melhor habilidade em lidar com o estresse, mais vigor e energia, somente para citar algumas observações (Oschman, 2007). 

 

Ainda no assunto atividade física, um experimento mostrou o efeito do aterramento após uma única sessão de exercício intenso do músculo gastrocnêmico resultando em dor muscular de ínicio retardado, um sintoma bastante comum entre atletas e fisiculturistas. Foram coletados dados como hemograma, bioquímica, enzimas, cortisol sérico e salivar, ressonância magnética, espectroscopia e nível da dor antes do exercício, 24, 48 e 72 horas depois do exercício. Os resultados mostraram que entre os participantes do grupo controle, houve um aumento considerável das células da série branca no estágio de maior percepção da dor, demonstrando um típico processo inflamatório (Brown et al, 2010). 

 

Estudos

 

Em um estudo sobre sono e dor crônica, Ober recrutou 60 indivíduos que sofriam de distúrbios do sono e dores crônicas musculares e articulares por pelo menos 6 meses. Metade do grupo passou a dormir em colchões aterrados e a outra metade em colchões falsamente aterrados. A maioria do grupo do aterramento descreveu melhora sintomática, com alívio significativo das condições asmáticas e respiratórias, artrite reumatóide, TPM, apneia do sono e hipertensão (Ober, 2000). 

 

Outro estudo pôde comprovar a mudança de ativação do sistema nervoso simpático para o parassimpático, em que homens e mulheres entre 18-80 anos permaneceram sentados por 2 períodos de 40 minutos em uma cadeira reclinável aterrada (no grupo sham a cadeira era falsamente aterrada) e outra não-aterrada. Parâmetros como condutância da pele, frequência respiratória, taxa de oxigenação sanguínea e pulso foram mensurados e mostraram um maior aumento do consumo de oxigênio, sugerindo uma melhora na resposta metabólica (Chevalier, 2010).

 

Aterramento Em Bebês

 

Médicos da Unidade de terapia Intensiva Neonatal do Hospital Infantil da Universidade estadual da Pensilvânia observaram uma melhora significativa na funcionalidade do sistema nervoso autônomo em bebês prematuros colocados em sistema de aterramento. Sabe-se que o não desenvolvimento do tônus vagal nesses pacientes está relacionado à enterocolite necrosante (Menigoz et al., 2020). 

 

Aterramento em Bebes

 

Melhor Maneira De Fazer o Aterramento

 

Depois dos fatos expostos, e para aqueles que querem iniciar na técnica de aterramento, a melhor maneira de fazer isso é colocar os pés descalços na terra ou grama de preferência molhada, uma vez que a água é um excelente condutor. Andar na areia da praia também é excelente, pois  o sal marinho é um poderoso condutor do fluxo de elétrons e não somente seus pés estarão conectados à Terra mas também todo o seu corpo está saturado de sal pela névoa formada pelas ondas do mar (site grounded.com). 

 

Nos EUA estão disponíveis à venda colchões, tapetes e patches que podem ser acoplados ao sistema de aterramento da casa e são utilizados por aqueles que vivem nos centros urbanos sem acesso à terra ou areia. A hora de dormir é o momento em que há maior benefício do aterramento, pois ajuda com a regulação da produção de melatonina que por sua vez regula o relógio biológico e também atua como hormônio anti-inflamatório (site grounded.com).

 

As pesquisas científicas revelaram um fator ambiental surpreendentemente positivo mas negligenciado na saúde: o contato físico direto com o vasto suprimento de elétrons na superfície da Terra (Sokal & Sokal, 2012). O aterramento mostra ser um excelente modo de promoção de um estilo de vida saudável, pois não requer esforço, concentração ou disciplina e pode ser utilizado pelo tempo que se desejar. Os resultados frequentemente rápidos com o aterramento podem inclusive motivar à adoção de hábitos mais saudáveis, como a mudança na dieta ou a prática de exercícios físicos (Menigoz et al, 2020).

 

Aterramento

 

 

Referências:

 

Amalu W. (2004) Medical thermography case studies. Unpublished study. https:// www.earthinginstitute.net/wp-content/uploads/2019/02/thermographycasehisto ries2004.pdf.

Brown R, Chevalier G, and Hill M. “Pilot study on the effect of grounding on delayed-onset muscle soreness,” Journal of Alternative and Complementary Medicine, vol. 16, no. 3, pp. 265–273, 2010.

Chamberlin K, Smith W, Chirgwin C, Appasani S, Rioux P. Analysis of the charge exchange between the human body and ground: evaluation of “earthing” from an electrical perspective. J Chiropr Med. 2014 Dec;13(4):239-46

Chevalier G. “Changes in pulse rate, respiratory rate, blood oxygenation, perfusion index, skin conductance, and their variability induced during and after grounding human subjects for 40 minutes,” Journal of Alternative and Complementary Medicine, vol. 16, no. 1, pp. 1–7, 2010.

Chevalier G. The effect of grounding the human body on mood. Psychol Rep. 2015 Apr;116(2):534-42.

Chevalier G, Sinatra ST, Oschman JL, Sokal K, Sokal P. Earthing: health implications of reconnecting the human body to the Earth’s surface electrons. J Environ Public Health. 2012;2012:291541.

Earthing Institute (2013) https://www.earthinginstitute.net/how-groundingaffects-blood-viscosity/.

Earthing Institute (2012) https://www.earthinginstitute.net/rapid-benefits-anearthing-1-hour-time-trial/.

Ghaly M, Teplitz D. The biologic effects of grounding the human body during sleep as measured by cortisol levels and subjective reporting of sleep, pain, and stress. J Altern Complement Med. 2004 Oct;10(5):767-76

Guyton AC. e Hall JE.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª ed., 2017.

Menigoz W, Latz TT, Ely RA, Kamei C, Melvin G, Sinatra D. Integrative and lifestyle medicine strategies should include Earthing (grounding): Review of research evidence and clinical observations. Explore (NY). 2020 May-Jun;16(3):152-160. 

Ober C. “Grounding the human body to neutralize bioelectrical stress from static electricity and EMFs,” ESD Journal, http://www.esdjournal.com/articles/cober/ground.htm, January 2000

Oschman JL. Can electrons act as antioxidants? A review and commentary. J Altern Complement Med. 2007 Nov;13(9):955-67.

Pennsylvania State University. (2017) Electrical grounding technique may improve health outcomes of NICU babies (Press release). https://news.psu.edu/story/ 476014/2017/08/03/research/electrical-grounding-technique-may-improvehealth-outcomes-nicu

Stein Y, Udasin IG. Electromagnetic hypersensitivity (EHS, microwave syndrome) – Review of mechanisms. Environ Res. 2020 Jul;186:109445

http://grounded.com/news/2018/5/13/conductivity-and-grounding

https://revistamedicinaintegrativa.com/earthing-andar-descalco-sobre-a-terra-faz-bem-para-a-saude/#:~:text=Oschman%2C%20no%20editorial%20%E2%80%9COur%20Place,of%20Alternative%20and%20Complementary%20Medicine.

https://vidaplenaebemestar.com.br/inspiracao/musica/o-que-e-ressonancia-schumann-e-como-nos-afeta

https://www.cursonr10.com/aterramento/#:~:text=Aterramento%20el%C3%A9trico%20%C3%A9%20uma%20das,as%20exig%C3%AAncias%20das%20normas%20vigentes.

https://www.ultimatelongevity.com/earthing-grounding/clint-ober.shtml

Sobre o autor | Website

Sou médico, empresário e apaixonado por saúde. Nasci em uma família de médicos e aprendi desde cedo a questionar o status quo. Me formei em 2011 pela Faculdade de Medicina da UERJ, tirei dois títulos em duas especialidades médicas diferentes em menos de 5 anos de formado e criei junto com meu irmão, Dr. Gabriel Azzini, o programa Homem Super Saudável. Hoje tenho um dos principais podcasts do Brasil, mais de 2.000 mil alunos e centenas de milhares de seguidores no Youtube, Instagram e Podcast. Minhas obsessões incluem células tronco, terapias de crescimento capilares, modulação hormonal, jejum intermitente e suplementação regenerativa.