Óleos Essenciais e o Tratamento De Ansiedade
Ansiedade
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno de ansiedade figura entre as doenças psiquiátricas mais comuns que afetam a população mundial, sendo o Brasil o líder no ranking. No EUA, acredita-se que 1 em cada 4 adultos sofrerá de transtorno de ansiedade em algum momento de sua vida (Murrough et al., 2015).
A ansiedade é, por definição, a antecipação de uma ameaça futura (Crocq, 2015). Do ponto de vista da evolução do homem, a ansiedade é uma condição normal que nos garante a sobrevivência, pois evita que nos coloquemos em situações de risco à vida (Crocq, 2015).
A ansiedade é um sentimento passageiro; ele surge quando estamos em uma situação que nos causa desconforto, como falar em público, vivenciar um problema de saúde na família ou enfrentar a fatura do cartão de crédito! Mas, assim que o problema é resolvido, a ansiedade se vai.
Entretanto a ansiedade pode se tornar crônica, com sintomas subliminares que são difíceis de serem distinguidos entre uma crise de ansiedade passageira ou algo que pode cronificar e se agravar a um quadro conhecido como Transtorno de Ansiedade Generalizada, ou TAG.
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Na TAG, a preocupação se torna excessiva e a pessoa está sempre em alerta, esperando o pior, em um nível que leva a pensamentos pessimistas (Johns Hopkins Medicine; Crocq, 2015; de Souza et al., 2015). O TAG vem acompanhado de sintomas psíquicos como insônia, irritabilidade, perda de concentração, e também sintomas físicos como tensão muscular, boca seca, suor excessivo, náusea e micção constante (Johns Hopkins Medicine; de Souza et al., 2015). Geralmente a depressão acompanha o TAG (Kasper et al., 2015).
O TAG causa importantes prejuízos pessoais, familiares e sociais, o que torna o tratamento essencial a quem sofre dessa condição (de Souza et al., 2015). Acredita-se que o número de pessoas que sofrem de ansiedade seja duas vezes maior que o número de pessoas diagnosticadas com TAG (Kasper et al., 2018). Por isso, tratar os sintomas de ansiedade é primordial para que se evite a piora do quadro e o desenvolvimento do TAG.
Tratamento Clássico De Ansiedade
Na Medicina tradicional, o tratamento clássico da ansiedade em geral envolve o uso de medicamentos benzodiazepínicos, antidepressivos e até mesmo anti-convulsivantes têm sido utilizados mais recentemente (de Souza et al., 2015). Entretanto sabemos do perigo que envolve o uso desses medicamentos como dependência, amnésia, sedação, disfunção sexual e tontura, dentre tantos outros efeitos colaterais (de Souza et al., 2015).
Uma opção ao tratamento convencional pode ser o uso dos óleos essenciais, atualmente bastante utilizados tanto na Medicina Alternativa1 quanto na Integrativa2 (Farrar & Farrar, 2020).
- Na Medicina Alternativa, a terapia é utilizada em adição ao tratamento médico convencional.
- A terapia utilizada na Medicina Integrativa substitui o tratamento médico convencional integralmente.
Óleos Essenciais (OEs)
Os óleos essenciais (OEs) são substâncias orgânicas complexas de fragrância variável, extraídas de diversas partes das plantas. Apesar do termo “óleo”, não são obrigatoriamente gordurosos e tem como característica o fato de evaporarem quando expostos ao ar em temperatura ambiente (Corazza, 2002). São produzidos com o propósito de defesa do vegetal contra ataque de parasitas e doenças e na proteção da radiação solar (Corazza, 2002).
Os óleos essenciais mundo oriental
No mundo oriental a cultura do uso dos OEs é milenar, principalmente entre os povos chineses, indianos e egípcios (Farrar & Farrar, 2020). O Imperador chinês Sheng-Nung listou 350 plantas medicinais em seu Tratado PEN T’SAO há aproximadamente 2.800 anos a.C.(Brito et al., 2013). Na Índia, o sistema de medicina mais antigo do mundo – ayurveda, preconiza nos livros em sânscritos o uso de produtos naturais no tratamento de enfermidades há mais de 2.000 anos a.C. No Egito Antigo o tratado médico Papiro Ebers, datado de 1.550 a.C., descreve mais de 800 sintomas e seus respectivos tratamentos que incluem, dentre outros, a inalação de óleos (Farrar & Farrar, 2020).
Já na Europa ocidental, Hipócrates (considerado o Pai da Medicina Moderna) defendia a aromaterapia através de banhos e massagens como a chave para se ter uma boa saúde (Farrar & Farrar, 2020).
Apesar de bastante conhecidos na indústria de alimentos, de fragrâncias e de cosméticos há séculos, os OEs vem ganhando destaque nos últimos anos principalmente pela popularização da Aromaterapia no mundo ocidental (Groot & Schmidt, 2016). Estima-se que os americanos gastam mais de $30.2 bilhões de dólares anualmente com este tipo de terapia (Farrar & Farrar, 2020).
De Onde Vem Os Óleos Essenciais
De acordo com a ISO (Norma Internacional para Padronização), os OEs devem ser obtidos a partir de matéria-prima vegetal natural, claramente definida quanto à sua origem e espécie. Também pela ISO só pode ser considerado um óleo essencial o produto extraído por destilação a vapor ou destilação aquosa da planta ou ainda extração a frio da casca de frutas cítricas (Cook & Ernste, 2000; Groot & Schimidt, 2016).
Os OEs apresentam de 1 a 5 componentes principais que constituem mais de 50-60% do óleo, e geralmete apresentam outros 100 a 200 ingredientes não são formados por apenas um ingrediente, podendo apresentar entre 100 a 250 componentes. A presença de componentes muitas vezes não identifcados (ou ainda incorporadas após a extração do óleo) podem acarretar alergia e intoxicação (Groot & Schmidt, 2016).
Formas De Uso Dos Óleos Essenciais
Apesar de ser o olfato o mais desconhecido dentre os sentidos desenvolvidos pelo homem (Corazza, 2002), a maneira mais conhecida de se beneficiar com o uso dos OEs é na Aromaterapia, através da pulverização e difusão aérea, inalação, compressas, banhos e massagens (Andrei & Del Comune, 2005).
Na Aromaterapia, as substâncias odoríferas desprendem partículas voláteis que são carreadas pelo ar sendo então aspiradas pelo nariz. Na cavidade nasal estão presentes as células nervosas olfativas, contendo receptores que têm a capacidade de se ligarem à diferentes partículas voláteis. Assim, as células olfativas são estimuladas pela ligação da partícula ao receptor e com isso impulsos nervosos são enviados através de fibras nervosas até o o sistema límbico no cérebro, conhecido como “cérebro emocional”. Nesta parte do cérebro as mensagens são codificadas e produzirão reações fisiológicas e psicológicas.
Outra teoria acrescenta a vibração no processo de excitação das células nervosas olfativas devido ao fato de essas células apresentam cílios. Assim, os odores poderiam ser percebidos sem que as moléculas odoríferas necessariamente chegassem ao nariz (Andrei & Del Comune, 2005). Isso pode explicar o fato de animais de experimentação que não sentem cheiro (anósmicos) se beneficiam com a inalação de OEs e apresentam redução da ansiedade em testes de laboratório (de Souza et al., 2015).
Outras formas de uso do OEs são indicadas, como a aplicação direta na pele, o gargarejo e até mesmo a ingestão (Groot & Schimidt, 2016). A escolha do modo mais adequado a ser empregado deve levar em conta a substância a ser utilizada (Andrei & Del Comune, 2005). Os OEs alcançariam o sistema nervoso central através da absorção sistêmica pela circulação sanguínea (de Souza et al., 2015).
Os principais óleos essenciais descritos para tratamento da ansiedade são:
BERGAMOTA (Citrus bergamia): Tem como principais constituintes o linalol, acetato de linalil, pineno, acetato de linalila, nerol, acetato de nerila, geraniol, bergapteno, terpineol e dipenteno (Andrei & Del Comune, 2005).
BENJOIM (Styrax tonkinensis). Tem como principais constituintes: ácido benzóico, vanilina, benzoato de cinamila, benzoato de coniferila e ácido sia-resinólico (Andrei & Del Comune, 2005).
PATCHULI (Pogostemon cablin ou Pogostemon patchuli). Tem como principais componentes: patchulol, eugenol, fenol, cadineno, cariofileno, cinamaldeído, patchulipiridina e pogostol (Andrei & Del Comune, 2005).
Estudos Sobre Os Óleos Essenciais
Vários estudos abordam o uso dos OEs em casos específicos de ansiedade observados em pacientes oncológicos (Stringer & Donald, 2011), como ansiolíticos no momento que antecede uma cirurgia (Braden et al., 2011) ou ainda em pessoas que tem fobia à cadeira do dentista (Kritsidima et al., 2010).
Dentre os OEs mais utilizados para ansiedade, destaca-se a Lavendula angustifolia. Seu efeito ansiolítico foi comprovado em diversos estudos pré-clínicos conduzidos principalmente em camundongos e ratos, através de testes comportamentais clássicos aplicados nesses animais (de Souza et al., 2015).
Outro fato extremamente importante foi comprovado nos estudos com animais de laboratório: diferente dos benzodiazepínicos, muitos OEs não inibem o neurotransmissor GABA. Assim, os efeitos colaterais observados com o uso dos benzodiazepíncos estão ausentes com o uso da Lavendula angustifolia, Achillea wilhemsii, Alpinia zerumbet, Citrus aurantium e Spiranthera odoratissima, só para citar alguns (de Souza et al., 2015)
A Lavendula angustifolia está disponível para uso por via oral em alguns países. Em pacientes com ansiedade subliminar ou mesmo com Transtorno de Ansiedade Generalizada, o efeito ansiolítico da Lavendula por via oral pode ser percebido após 2 semanas. Além disso a Lavendula por via oral apresenta efeitos benéficos sobre os sintomas concomitantes ao Transtorno de Ansiedade, como a insônia e a depressão. Possui ainda a vantagem de não causar efeitos colaterais e nem interação medicamentosa, sedação ou sintomas de abstinência (Kasper et al., 2015).
Pelo exposto, podemos concluir que os óleos essenciais constituem uma ferramenta disponível no tratamento da ansiedade observada nas diferentes situações que somos expostos no dia a dia, e também no tratamento de casos mais graves de Transtornos de Ansiedade. O benefício do uso dos OEs sobrepõe-se aos efeitos adversos causados com o uso dos medicamentos convencionais psicotrópicos.
Referências:
Andre P, Del Comune AP . Aromaterapia e suas aplicações. Centro Universitário S. Camilo, 11 (2005): 57-68.
Braden R, Reichow S, Halm MA. The use essential oil lavandin to reduce preoperative anxiety in surgical patients.J Perianesth Nurs, 24 (2009): 348-55.
Cooke B., Ernst E. Aromatherapy: a systematic review. British Journal of General Practice, 50 (2000): 493-496.
Corazza, S. Aromacologia: uma ciência de muitos cheiros. São Paulo, Senac, 2002.
Crocq MA. A history of anxiety: from Hippocrates to DSM. Dialogues in Clinical Neuroscience, 17 (2015): 87-88.
de Sousa DP, de Almeida Soares Hocayen P, Andrade LN, Andreatini R. A Systematic Review of the Anxiolytic-Like Effects of Essential Oils in Animal Models. Molecules, 20 (2015): 18620-18660.
Domingo TS & Braga EM. Aromaterapia e ansiedade: revisão integrativa da literatura. Cad. Naturol. Terap. Complem, 2 (2013): 73-81.
Farrar AJ & Farrar FC. Clinical Aromatherapy. Nurs Clin N Am, 55 (2020): 489-504.
Groot AC, Schmidt E. Essential Oils, Part I: Introduction. Dermatitis, 27 (2016):39-42.
Johns Hopkins Medical. Generalized Anxiety Disorder (GAD) [Internet]. https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/generalized-anxiety-disorder.
Kritsidima M, Newton T, Asimakopoulou K. The effects of lavender scent on dental patient anxiety levels: a cluster randomized-controlled trial. Communit Dent Oral Epidemiol, 38 (2010): 83-7.
Murrough JW, Yaqubi S, Sayed S, Charney DS. Emerging drugs for the treatment of anxiety. Expert Opin Emerg Drugs, 20 (2015): 393-406.
Stringer J, Donald G. Aromaticks in cancer care: an innovation not to be sniffed at. Complement Ther Clin Pract., 17 (2011): 116-21.
World health Organization (WHO). Depression and other common mental disorders: Global Health Estimates [Internet].
www.who.int/mental_health/management/depression/prevalence_global_health_estimates/en/